PIB em queda e a inflação e o trabalho precário avançam

 

O Brasil terminou 2020 com uma das maiores taxas de desemprego do mundo, a quinta maior entre os 36 países de maior expressão. O País vem convivendo com o alto desemprego desde fevereiro de 2016, quando a taxa superou os 10%, o que não se via desde a crise de 2009. A taxa atual de 12,6% é similar àquela encontrada em janeiro de 2017, mantendo-se entre as mais altas da história recente. A média do desemprego no governo Bolsonaro até aqui é de 12,5%, isso retirando fora os 12 meses mais afetados pela pandemia, entre abril de 2020 e março de 2021. É a mesma média do governo Temer, e seria pior ainda se incluíssemos todo o período, indo para 13,1%.

A taxa fria pode não exprimir de forma clara o número de desempregados(as). O Brasil conta, hoje, com cerca de 13,5 milhões de desempregados(as). Com o desemprego e a inflação que corroem o poder de compra dos salários, a massa de rendimento total da economia está 6% abaixo do registrado em setembro de 2019, em relação ao mesmo mês de 2021, o último para o qual temos os dados da pesquisa domiciliar do IBGE, a PNADC. São cerca de R$ 16 bilhões a menos que circulam na economia. Com isso, a demanda interna continua baixa, afetando negativamente as vendas da agricultura familiar, o setor de serviços e a indústria, com impactos no bem-estar dos brasileiros e brasileiras.

A taxa de desemprego recuou levemente nos últimos meses, mas o grosso da geração de empregos tem sido de vagas precarizadas e com salários e jornada inferiores àquelas desejadas pelos trabalhadores(as). O governo recentemente reviu neste mês a geração de empregos de 2020, apontando para um fechamento de 191,5 mil vagas. Realidade muito distante da “geração” de 142,7 mil vagas anunciadas “às pressas” em janeiro. A maior parte do emprego gerado em 2021 tem sido de vagas informais, sem carteira assinada e não aparece nos dados do CAGED, registro público obrigatório que só vale para o emprego formal.

Segundo os dados da PNADC do IBGE, ainda temos cerca de 1 milhão de trabalhadores(as) que não voltou ao mercado de trabalho, ou seja, são pessoas que não estão ocupadas e nem procurando emprego. O auxílio emergencial, o medo da Covid-19 e a falta de perspectiva de conseguir uma vaga vêm retardando o retorno ao mercado de trabalho desses(as) brasileiros(as) e contribuído de certa forma para “segurar” a taxa de desemprego. Isso porque a maior parte deste povo dificilmente encontrará uma vaga ao voltar a procurar emprego. Se acharem, muito provavelmente será no mercado informal.

O Gráfico 2 mostra a taxa de crescimento do emprego este ano, por tipo de ocupação, a partir dos dados da PNADC do IBGE. A população ocupada aumentou em 5,75 milhões de pessoas de dezembro de 2020 a setembro de 2021, 61% das quais reportaram ter entrado em uma vaga informal no setor privado, como trabalhador(a) doméstico, ou conta própria sem carteira. Sendo as duas primeiras as ocupações que mais cresceram nos nove primeiros meses de 2021.

Como já havíamos chamado a atenção, a inflação parece ter se disseminado e fugido ao controle do governo com a “desancoragem” das expectativas para inflação futura. O mercado tem revisto para cima as estimativas de inflação para 2021 e 2022, ao mesmo tempo em que revê para baixo o crescimento. A elevação dos juros dada como certa deve contribuir negativamente para a recuperação econômica. O juro é o preço do dinheiro, e sua elevação afeta o custo do recurso que deve ser tomado emprestado para realização dos investimentos e, também, do capital de giro dos(as) empresários(as) e agricultores(as).

O problema é grave porque o “crescimento” que será observado este ano terá como base a enorme queda de 2020. Mas será insuficiente para recompor a perda dos últimos anos e nossa renda continuará a cair. O fato é que o PIB real se manterá inferior ao pico da série, registrado em 2013. A queda do PIB teve impulso claro do setor agrícola, que sentiu a queda na demanda externa devido aos problemas de relacionamento com a China e Rússia. O PIB agropecuário recuou pelo terceiro trimestre seguido, com um tombo de -8% no terceiro trimestre, para uma queda geral de -0,1% do PIB. Curiosamente, é a indústria que tem mostrado melhor recuperação, junto com a construção civil. Mas, o fôlego da retomada será curto com a inflação e alta de juros, apesar da provável melhora na exportação agropecuária para a China.

O relatório do IBGE chama atenção particular para o desemprenho da agropecuária: “Dentre as atividades que contribuem para a geração do Valor Adicionado, a Agropecuária registrou queda de 9,0% em relação a igual período do ano anterior. Este resultado pode ser explicado, principalmente, pelo desempenho de alguns produtos da lavoura que possuem safra relevante no terceiro trimestre e pela produtividade, visível na estimativa de variação da quantidade produzida em face à área plantada. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE), divulgado no mês de novembro, algumas culturas apresentaram retração na estimativa de produção anual e perda de produtividade, como, por exemplo, café (-22,4%), algodão (-17,5%), milho (-16,0%), laranja (-13,8%) e cana-de-açúcar (-7,6%). Cabe mencionar que as estimativas para a Pecuária também apontaram um fraco desempenho dessa atividade no trimestre analisado”.

O Dieese fez para a CONTAG uma simulação com a projeção do PIB e inflação para 2021, baseada no Relatório Focus de Mercado, divulgado pelo Banco Central, e com base nos dados do IBGE e do Tesouro Nacional. O resultado, apresentado no Gráfico 3, mostra que o PIB de 2021 deve apresentar uma queda em termos reais, em contrapartida ao crescimento nominal de 4,7% frente a 2020, e uma inflação de cerca de 10,2% em 2021. A previsão do crescimento do PIB em 2022 está em cerca de 0,4%, segundo as expectativas do mercado divulgadas em 26/11/2021 pelo BC.

Não há bola de cristal que guie uma boa previsão para o próximo ano, e os analistas mais sérios se mostram céticos quanto a uma possível retomada do curso do desenvolvimento sustentável e com justiça social. A única certeza é que, no presente, o cenário é de alto desemprego, alta inflação, queda na renda média, alta dos juros e retração do investimento. Há muito o que fazer, mas é preciso que o governo aponte um rumo claro e capaz de aglutinar a sociedade. No lado da agricultura familiar não faltam produtores(as) e famílias dispostas a produzir e contribuir para o crescimento, para a erradicação da fome e por um melhor padrão de vida e bem-estar, com alimentação saudável e menos desigualdade e exclusão social. O que falta, de essencial, é emprego e renda para gerar consumo e demanda.
FONTE: Subseção do Dieese/CONTAG

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