Roda de conversa “Violência contra lideranças políticas na Paraíba e no Brasil” discutiu a impunidade dos crimes contra lideranças sindicais e defensores dos Direitos Humanos no dia em que completam 38 anos do assassinato da líder paraibana Margarida Maria Alves
Resistências, luta, conquistas, união, direitos humanos e organização. Estas foram as principais palavras que estiveram presentes na fala de cada participante da roda de conversa “Violência contra lideranças políticas na Paraíba e no Brasil”, organizada pela Secretaria de Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares da Paraíba (FETAG-PB), realizada nesta quinta-feira, dia 12 de agosto, data que marca os 38 anos do assassinato da líder sindical rural paraibana, Margarida Maria Alves.
O evento foi realizado de maneira virtual, por causa da pandemia da Covid-19, e foi prestigiado por diversos movimentos sociais, lideranças sindicais rurais, ativistas pelos direitos humanos e presidentes de outras federações dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil, bem como do filho da líder sindical Margarida Maria Alves, José de Arimateia, que estava muito emocionado.
O presidente da FETAG-PB, Liberalino Ferreira, fez a abertura do evento, ao lado das secretárias de mulheres da FETAG-PB, Ivanete Leandro, e da CONTAG, Mazé Morais. Ao lado de Margarida Alves, a ativista pelos direitos humanos e vereadora carioca, Marielle Franco, também foi homenageada pela Secretaria de Mulheres da FETAG-PB. Marielle foi assassinada há 3 anos, no Rio de Janeiro, e assim como Margarida, os mandantes de sua morte continuam impunes.
“Até hoje não sabemos quem mandou matar Marielle, os mandantes de seu assassinato não foram presos, assim como os de Margarida Alves. A violência continua atingindo lideranças políticas, no campo, na cidade, homens e mulheres que lutam por uma vida digna para os trabalhadores e as trabalhadoras, e por isso, estamos reunidos nesta data hoje, para celebrar a memória destas mulheres, como também, nos unirmos e seguirmos esta luta que elas fizeram, não podemos ficar de braços cruzados”, enfatizou o presidente da FETAG-PB.
Para a secretaria de Mulheres da Federação Paraibana dos Trabalhadores Rurais, Ivanete Leandro, Margarida desbravou caminhos e possibilitou que ela e outras “Margaridas”, pudessem ocupar os sindicatos e assumir a presidência deles. Ela mesma, Ivanete, é presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais na cidade de Bananeiras. Segundo ela, é preciso incentivar ainda mais a participação das mulheres nos sindicatos rurais, sem medo. “”Precisamos estar juntas, unidas. e nos inspirarmos na luta de nossa inesquecível Margarida Maria Alves e da ativista Marielle Franco para podermos seguir em frente, mesmo sabendo que temos muitos desafios”, afirmou.
Mazé Morais, secretaria de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (CONTAG), relembrou os 21 anos da Marcha das Margaridas, “ocupando as ruas de Brasília, renovando nosso compromisso com a luta em defesa dos direitos das mulheres do campo, das florestas e das águas”, disse. Para Mazé, momentos como este, proporcionado pela FETAG-PB, é muito pertinente, pois é fundamental sempre resgatar a história de Margarida e de Marielle. “A discussão sobre a violência contra lideranças políticas no Brasil é fundamental e urgente, principalmente neste momento difícil que estamos vivendo no país, com ameaças diárias à nossa democracia. As lutas de Marielle e de Margarida seguem entre nós”, frisou.
O filho de Margarida Alves, José de Arimateia tinha apenas 8 anos quando a mãe foi assassinada, a mando do chamado grupo da Várzea, formado por donos de usina na região de Alagoa Grande, entres, Aguinaldo Veloso Borges.
Muito emocionado, ele agradeceu à FETAG-PB e demais participantes por sempre reverenciarem a história de sua mãe neste dia 12 de agosto. “Minha mãe era muito corajosa, ela encarou de frente a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais e essa era sua missão, hoje eu sei que ela veio ao mundo para isso, para atuar pelos direitos humanos daqueles mais vulneráveis. Hoje, eu só tenho a agradecer a todos vocês e tenho a certeza que a luta dela não foi em vão, a semente de Margarida germinou”, disse.
A coordenadora executiva do SEDUP e integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras, Rosângela Silva, reafirmou a importância da união das mulheres, LGBTs, negros e negras, e povos indígenas para combater de maneira eficaz as violências que têm atingido o povo brasileiro, principalmente as pessoas em situação de vulnerabilidade. “Estamos vivendo um momento muito delicado no Brasil, com criminalização dos movimentos sociais, vigilantismo sobre nossa atuação e a perseguição e morte dos defensores dos direitos humanos e um retrocesso sem precedentes sobre nossos direitos, já conquistados. É preciso que estejamos em constante articulação para agir em todos os pontos onde este governo tem nos prejudicado”, enfatizou.
Em agosto, a Paraíba vai contar com um Programa de Proteção aos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos. A coordenação do Programa ficará sob a responsabilidade da Casa Pequeno Davi, em convênio com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano da Paraíba e contará com uma equipe de especialistas. Ronildo Monteiro, da Casa Pequeno Davi, apresentou como o programa vai funcionar. “Essa é uma política pública do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, que começou a ser movimentada em 2017, e que agora estamos implementando aqui na Paraíba. Atualmente, são 10 pessoas que estão sob proteção do programa”, informou Ronildo.
“É importante pensarmos a história como algo vivo, o passado da ditadura militar, período que Margarida Maria Alves foi assassinada, infelizmente não acabou. Precisamos educar para nunca mais”, ressaltou a professora, Lúcia Guerra, presidente da Comissão de Instalação do Memorial da Democracia na Paraíba. A história de Margarida Maria Alves está presente no Memorial, que está aberto a visitação e pesquisa, na Fundação Casa de José Américo, no bairro do Cabo Branco, em João Pessoa. A professora Lúcia Guerra chamou a atenção para necessidade de preservação da casa onde Margarida Alves morou e foi assassinada, na cidade de Alagoa Grande, e hoje é um museu com fotos e documentos que contam toda a sua trajetória. Porém, segundo Lúcia Guerra, precisa ter investimentos para que possa continuar contando a história da líder sindical para as novas gerações , desempenhando, assim, seu trabalho pedagógico. “Esta discussão que estamos fazendo hoje, dia 12 de agosto, deve ser sempre renovada, é uma discussão pedagógica e fundamental para nossa juventude e precisa ser amplamente divulgada”, enfatizou.
A roda de conversa foi finalizada pelo presidente da Fundação Margarida Maria Alves, advogado Alexandre Guedes. “Alagoa Grande é terra de Margarida e de Marielle, que tem parentes nascidos naquela terra fértil, frutificou a mística e a organização da luta contra a opressão, a violência e o extermínio do povo”, afirmou. Segundo o advogado, é importante que as novas gerações conheçam a trajetória e as causas que Marielle e Margarida defendiam para que a luta em prol dos direitos humanos possa conseguir êxitos e que essas histórias de violência e violação de direitos parem. “Margarida ousou resistir, enfrentou o temido grupo de usineiros da Várzea e foi executada cruelmente, por pessoas que são contra o diálogo e a democracia. Continuamos aqui na batalha para reverenciar sua memória, sua luta e continuarmos em defesa da democracia”, afirmou.
Mabel Dias – Assessoria de Comunicação da FETAG-PB