Até quando? Família de trabalhadores rurais é assassinada no Pará. Conflitos no campo aumentaram em 2021 no Brasil

 

Uma família de trabalhadores rurais,  pai, mãe e filha, identificados como José Gomes, Márcia Lisboa e Joene, foram assassinados na área rural de São Félix do Xingu, no Pará. Até quando será normal receber a notícia de que mais um(a) trabalhador(as) rural, mais uma família rural é assassinada no Brasil?

Zé do Lago, Márcia e Joene, segundo as investigações iniciais, teriam sido mortos por pistoleiros. Eles eram conhecidos na região pela atuação em defesa do meio ambiente, em especial, pela soltura de quelônios – variadas espécies de tartarugas da Amazônia.

Em todo o Brasil, conflitos por terra e ambientais dispararam em 2021. E pelo que parece, 2022 não será diferente.

Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre “Violência contra a Ocupação e a Posse da Terra” apontam que no ano passado foram registrados 26 assassinatos relacionados a conflitos no campo no país, ou seja, 30% a mais em relação a 2020. Desses crimes, 20 foram na Amazônia Legal.

Na Paraíba, em outubro de 2021, registrou-se a tentativa de homicídio contra o professor Rafael, ativista histórico da luta pela reforma agrária na região da Várzea paraibana, na cidade de Cruz do Espírito Santo. O professor é assentado, presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Dona Helena e integrante da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Entre os dias 23 e 24 de outubro, o professor Rafael já tinha sofrido um ato de violência à sua vida, quando arrombaram sua casa, e os ladrões levaram pertences seus, como celular, televisão, moto e feira do mês.

A pesquisa da CPT mostra que em 2021, 418 territórios sofreram “Violência Contra Ocupação e a Posse da Terra”. Sendo 28% territórios indígenas; 23% quilombolas; 14% são territórios de posseiros; 13% territórios de sem-terras, entre outros. A “destruição de casa” aumentou 94%, “destruição de pertences” 104%, “expulsão” 153%, “grilagem” 113%, “pistolagem” 118% e “impedimento de acesso às áreas de uso coletivo” aumentou 1.057%.

“Todos esses crimes bárbaros que infelizmente acontecem na Amazônia Legal e em todo o país, nascem da omissão do poder público, sobretudo, do atual governo federal, que em detrimento de interesses do agronegócio, de madeireiras, de mineradoras, e em subserviência ao capital nacional e internacional, penaliza e dizima as comunidades rurais tradicionais que são as guardiães do nosso Meio Ambiente”, destaca Alair Luiz dos Santos, secretário de Política Agrária da CONTAG.

Alair lembra que como forma de coibir mais assassinatos e conflitos no campo, o Sistema Confederativo (Sindicatos, Federações e CONTAG) aprovou em dezembro de 2021, uma resolução que trata de Políticas sobre a Reforma Agrária no Brasil e Ação Sindical na Luta Pela Reforma Agrária, Acesso à Terra e Regularização Fundiária.

“Através da resolução que trata de Políticas sobre a Reforma Agrária no Brasil, cumpriremos um importante papel na luta pela terra e preservação das vidas dos povos do campo, da floresta e das águas”, disse.

Nortista, da Amazônia e paraense, o secretário de Organização e Formação Sindical da CONTAG, Carlos Augusto Silva (Guto), espera que seja elucidado o mais breve o assassinato da família ambientalista de São Félix do Xingu (PA).

“Enquanto CONTAG e Federação do Pará (Fetagri-PA), denunciamos e estamos acompanhando a apuração sobre o assassinato da família rural de São Felix do Xingu, na certeza que serão localizados e responderão pelo crime, os devidos autores. O Estado Brasileiro tem o papel de garantir integridade e proteção dos seu cidadãos e cidadãs. Não podemos aceitar assassinatos de trabalhadores(as) rurais como algo normal”, frisa o representante da Confederação.

Na resistência para que as famílias rurais permaneçam vivas nos seus territórios, a CONTAG, Federações e Sindicatos filiados realizam ações e articulações junto ao Legislativo e Judiciário e participam de campanhas nacionais e internacionais com várias organizações para denunciar esses crimes contra trabalhadores e trabalhadoras rurais. Uma dessas ações é a Campanha A vida por um fio – De Autoproteção das Comunidades e Lideranças Ameaçadas, sobretudo, na Amazônia Legal.

“Estamos na luta para fortalecer mecanismos de defesa e autoproteção de comunidades e pessoas ameaçadas e/ou criminalizadas por estarem afirmando o direito à vida e aos territórios”, Carlos Augusto Silva (Guto).

 

Assessoria de Comunicação da FETAG-PB (Mabel Dias), com informações da Assessoria de Comunicação da CONTAG – Barack Fernandes

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