A CONTAG foi uma das organizações que colaboraram no “2º Conversatório para a elaboração das contribuições das mulheres rurais da REAF MERCOSUL à 66ª CSW”, atividade que aconteceu virtualmente na tarde da última sexta feira, dia 18, e que reuniu representantes de diversas organizações de países da América Latina. O tema do debate proposto neste encontro de dirigentes rurais foi “Mulheres Rurais e as Mudanças Climáticas.”
Este tema foi elaborado pela 66ª Comissão da Situação Jurídica e Social da Mulher (CSW), evento global que acontecerá no próximo mês, e por sua vez reunirá organizações de todos os continentes, que levarão suas contribuições sobre o tema a partir de distintos setores da sociedade onde as mulheres são afetadas de alguma forma pelas consequências das mudanças climáticas. A CSW é um órgão das Nações Unidas que promove a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, e realiza debates anuais sobre temas importantes nesse sentido.
O conversatório abre o calendário de atividades da próxima Reunião Especializada da Agricultura Familiar do Mercosul Ampliado (REAF), que está em sua 36º edição e sob presidência pró tempore do Paraguai neste semestre. O tema das mulheres rurais, mudanças climáticas e sistemas alimentares, como consta nas atas da última REAF, serão elaborados de acordo com as agendas de duas Comissões Temáticas da REAF: Mulheres Rurais, e Mudanças Climáticas, em coordenação com a ONU Mulheres.
A ONU Mulheres apresentou painéis importantes no 2º Conversatório, começando pelo de sua diretora regional adjunta para as Américas e Caribe, Cecilia Alemany, com o tema “O que esperamos da 66ª CSW para nossa região”. Cecilia aportou dados que indicam haver cerca de 58 milhões de mulheres rurais nos países que estão no território latino, e também que a região é uma das que mais sofre com as mudanças climáticas, que contribuem para o aumento da desigualdade social e também da desigualdade de gênero. As mulheres são afetadas de forma desigual e ficam com o ônus dos desastres das mudanças climáticas tanto nas atividades produtivas quanto nas reprodutivas e de cuidado da família.
Ela indicou que espaços políticos como a REAF e a própria CSW são oportunidades de juntar governos e sociedade civil para falar dos mesmos problemas e buscar soluções para eles, e que as organizações latinas de mulheres rurais devem ocupar ostensivamente esses espaços, para fazer com que suas vozes sejam escutadas desde este lugar onde elas são tão afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas, de forma a impulsionar mudanças reais em seus territórios a partir dessas articulações multilaterais.
A participação de Ana Carolina Querino, representante adjunta da ONU Mulheres do Brasil, foi no mesmo sentido da intervenção de Cecília. Ela apresentou o tema “Como as mulheres rurais podem contribuir para a 66ª CSW”. Ana Carolina comentou sobre a grande importância que o conhecimento tradicional, as experiências e demandas das mulheres rurais em suas propriedades e comunidades se relacionam com as instâncias e espaços locais e regionais responsáveis por elaborar políticas, e que há experiências brilhantes no Brasil, por exemplo, derivadas de processos de co-construção como esses, e que podem ser vistas como referência na região.
A terceira participação do conversatório foi da Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG )e da Confederação de Productores Familiares del Mercosur Ampliado (COPROFAM), ambas representadas pela secretária de Meio Ambiente da CONTAG, Sandra Paula Bonetti, que falou em nome das organizações representativas de agricultoras e agricultores familiares sobre o tema “Mulheres Rurais e Mudanças Climáticas no MERCOSUL” e aportou uma visão da base sobre o tema proposto no conversatório.
Em sua apresentação, Sandra trouxe sua experiência como agricultora familiar e o enfrentamento da seca no território onde atua, problema que ocorre em muitas regiões do Brasil e leva muitas famílias a perderem renda e empregos, e assim, desistem de suas atividades, praticando o êxodo rural, problema comum em vários países da América Latina. Além da preocupação com as questões climáticas, é relevante também a preocupação social, por busca de políticas publicas que proporcionem a permanência dessas famílias no campo com rentabilidade, qualidade e dignidade.
Ela comentou que entre as principais causas da mudança climática estão questões como os monocultivos do agronegócio e a devastação ambiental que ele causa, bem como outros setores industriais. E afirmou que, para além de buscar por recursos e tecnologias pra produção, é fundamental olhar para o ambiente onde a agricultura familiar acontece no seu modo tradicional, escutando o que a natureza comunica.
Sandra lembrou que é comum que as mulheres das famílias rurais seja protagonistas em buscar alternativas para fazer as adaptações necessárias com criatividade, de forma a continuar colocando comida na mesa de seus lares. Entre essas formas, que se conectam com os saberes tradicionais, está a Agroecologia.
“Acreditamos que a forma mais viável de mitigar as mudanças climáticas está nas praticas agroecológicas e suas técnicas agrícolas sustentáveis. Vemos que este é um caminho para lidarmos com esse problema tão sério. Não é um processo fácil, e precisamos de ajuda e fomento para trabalhar com isso de forma viável em nossas propriedades”, disse Sandra, que teve o apoio de sua companheira de diretoria na CONTAG, Mazé Morais, secretaria de Mulheres, quem também esteve presente na atividade.
Finalizadas as apresentações, foi o momento das delegações de mulheres dos países participantes do conversatório, compostas por representantes dos governos e organizações locais, aportarem diagnósticos e impactos identificados nesses países, e indicarem propostas que acreditam dialogar com essas demandas, informações que serão sistematizadas pela REAF e ajudarão a compor o documento que a América Latina apresentará na 66º CSW.
O debate completo pode ser assistido na gravação publicada no canal da REAF no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=TW2QmkmrC3Y
FONTE: Fonte: Gabriella Avila, correspondente da COPROFAM no Brasil |