Trabalhadoras rurais da Paraíba participam de encontro estadual e definem ações para o ano de 2021

Evento foi organizado pela Secretaria de Mulheres da FETAG-PB e contou com a participação de mulheres das quatro regionais

Resistência, organização e união. Estas foram as principais palavras que ecoaram no Encontro Estadual das Trabalhadoras Rurais Agricultoras Familiares, realizado pela Secretaria de Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado da Paraíba (FETAG-PB), que aconteceu nesta quinta-feira, dia 18, por meio de uma plataforma virtual.

O evento, em alusão ao Dia Internacional de Luta das Mulheres, celebrado no 8 de março, reuniu trabalhadoras rurais, das quatro regionais da Paraíba, localizadas nas regiões da Zona da Mata Norte e Sul, Piemonte da Borborema, Cariri Oriental e Ocidental, Borborema, Vale do Paraíba, Seridó, Curimataú, Médio Sertão, Serra do Teixeira, Alto Sertão, Vale do Piancó e Vale de Piranhas, que discutiram as conquistas e a efetivação da participação das mulheres no meio sindical, formação social e assessoria técnica para as trabalhadoras rurais e o combate à violência e ao feminicídio em tempos de pandemia. “Estamos reunidas hoje para reafirmar nossa luta enquanto trabalhadoras rurais agricultoras familiares e podermos caminhar juntas por um mundo mais justo e livre para todas as mulheres”, afirmou a secretária de mulheres da FETAG-PB, Ivanete Leandro, do sindicato de Bananeiras.

O presidente da FETAG-PB, Liberalino Ferreira, esteve presente ao evento e ressaltou a importância da participação das mulheres na organização dos sindicatos e a importância do 8 de março no calendário feminista. “Esta é uma data histórica e simbólica para todas vocês. Nós da direção da FETAG-PB estaremos sempre ao lado das mulheres, apoiando suas causas, defendendo seus direitos e a igualdade. O meio sindical precisa encampar estas lutas, não podemos admitir mais discriminação nem violência contra as mulheres”, disse.

Para a secretária nacional de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG), Mazé Morais, o mês de março simboliza a resistência das mulheres brasileiras, que mais uma vez, enfrentam um novo desafio, que é a pandemia da Covid19. “Na tarde de hoje, vamos sair de nossa reunião ainda mais fortalecidas, pois estamos lutando contra um inimigo invisível, e nós mulheres, estamos na linha de frente deste combate. Não podemos esquecer que unidas vamos mais longe e por isso, precisamos estar juntas para seguir nossa caminhada e garantir nossos direitos, que têm sido violados diariamente. E a CONTAG reafirma nossa luta neste mês de março, com o mote pela vida de todas as mulheres, resistiremos”, ressaltou.

A violência contra as mulheres e o feminicídio em tempos de pandemia foram os temas debatidos por Maísa Felix, coordenadora das Delegacias da Mulher na Paraíba, e a delegada adjunta da mulher, Renata Matias. Elas trouxeram informações importantes sobre como as trabalhadoras rurais podem denunciar casos de violência. As delegadas afirmaram que é um desafio fazer o combate à violência contra a mulher em tempos de pandemia, pois a vítima fica em casa com seu agressor e os meios de denunciar precisaram ser reinventados. “Infelizmente, o lar é onde mais ocorrem casos de agressão contra as mulheres, e sabemos que na pandemia esses casos aumentaram ainda mais, e as mulheres não podiam, não conseguiam sair de casa para denunciar que estavam sendo vítimas de violência, e por isso, pensamos em novos meios para que as mulheres denunciassem seus agressores e buscassem ajuda”, informou Maísa Felix. A secretaria de segurança pública da Paraíba criou então a delegacia online, onde a mulher pode fazer o registro da violência por meio da internet, como também solicitar medida protetiva nos casos de injúria, calúnia e difamação. “Com a ampliação, durante o período emergencial, passaram a ser comunicadas via on-line casos específicos de violência doméstica, como ameaça, injúria, calúnia e difamação. A partir de agora também é possível solicitar Medidas Protetivas de Urgência.”, explicou Renata Matias. De acordo com as delegadas, os registros feitos pela delegacia on-line são analisados e encaminhados para apuração, de acordo com cada caso. Os comunicantes recebem o Boletim de Ocorrência  por e-mail. Além da denúncia online, as mulheres também podem recorrer aos telefones 197 (polícia civil), 190 (policia militar) e 123 (secretaria de desenvolvimento humano).

Aliada às ações da Polícia Civil no combate à violência contra a mulher na Paraíba, estão aquelas realizadas pela Secretaria de Estado e da Mulher e da Diversidade Humana, coordenada por Lídia Moura. A secretária apresentou as políticas públicas pensadas pelo governo estadual para proteger as paraibanas nesses casos. “Temos os centros de referência da mulher, onde há toda uma estrutura com profissionais capacitadas para acolhê-la e prestar a assistência que ela precisa, as casas abrigos, como a Aryane Thays, que fica em Campina Grande e acolhe mulheres de todo o estado, com uma equipe multiprofissional para ampará-la e fazê-la sair do ciclo da violência. E além disso, a Patrulha Maria da Penha, que acompanha as mulheres que já tem medida protetiva”, informou. Lídia apresentou ainda ações voltadas especificamente à mulher do campo, como o Empreender Mulher, as feiras de negócios do empreendedorismo, o procase e o cooperar, orientações técnicas para as mulheres rurais, feira de economia solidária, PB Rural sustentável e o Conselho estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável.

Para a assessora jurídica da FETAG-PB, Geane Lucena, não se pode admitir que em pleno século XXI as mulheres sejam mortas por causa de seu gênero. “O movimento sindical precisa atuar nesta causa, que não pode ser só das mulheres, mas dos homens também. Precisamos mudar essa cultura machista que coloca a mulher como objeto e provoca a violência, seja ela sexual, psicológica, física, ajudar esta mulher a pedir ajuda. Por isso, estamos aqui reunidas para traçar estratégias de ação e buscar, de maneira conjunta, atuar pelo fim da violência contra as mulheres, prestando assistência às trabalhadoras rurais”, pontuou.

As trabalhadoras rurais Raimunda Soares, do município de Tacima, e Maria Anunciada Flor Barbosa de Morais, uma das organizadoras da Marcha pela Vida das mulheres e pela Agroecologia no Polo da Borborema, encerraram o encontro, contando as suas histórias de organização no campo. Dona Raimunda foi uma das primeiras lideranças sindicais femininas da Paraíba, sendo uma das organizadoras da primeira Marcha das Margaridas, realizada no ano 2000, e atualmente é presidente do Sindicato da cidade de Tacima e integrante da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). “Quando a mulher veste a camisa do sindicalismo, ela precisa ter coragem para enfrentar o que vier. Eu encontrei muitos obstáculos, mas eles só me fortaleceram e fizeram mostrar a força que tenho. A mulher precisa saber o poder que tem”, afirmou dona Raimunda, com toda a sua sabedoria.

Anunciada Barbosa apresentou as ações desenvolvidas pelas mulheres do Polo, que organizam há 12 anos a Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. “Esse ano nossa marcha não foi para rua, mas conseguimos repassar nosso recado através das redes sociais e apresentar nossas reivindicações. As agricultoras gravaram vídeos, que foram postados nas nossas redes, falando como elas estão lidando com a pandemia e como elas estão fazendo para enfrentar este desafio. No dia da marcha, afirmamos que queremos vacina, divisão justa do trabalho doméstico, fim da violência doméstica, educação para o campo, um SUS forte, produzir e vender os alimentos agroecológicos, e uma sociedade livre e justa para todos. A marcha fala da mulher na construção da vida”, afirmou Anunciada.

A representante do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Lagoa Seca, Márcia Araújo, sentiu-se contemplada com as apresentações e ficou feliz em saber que hoje as mulheres contam com canais para denunciar a violência doméstica. “Minha mãe passou por isso e na época dela não tinha delegacia para a mulher. Não é fácil ainda fazer a denúncia, principalmente para nós que estamos aqui no campo, mas eu fico feliz que tem estes canais para gente pedir ajuda e que nós mulheres obtivemos esta conquista”, disse.

Assessoria de Comunicação da FETAG-PB

 

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